O NASCIMENTO
Joaquim José da
Silva Xavier nasceu na fazenda do Pombal, comarca do Rio das Mortes, próximo a
Vila de São José Del Rei (atual Tiradentes) no ano de 1746, não se sabe, porém,
o dia de seu nascimento. Era o quarto filho de Domingos da Silva Santos, português,
e Antônia da Encarnação Xavier e seus irmãos eram Domingos, Antônio, José, Antônia,
Rita, Maria Vitória e Eufrásia Maria. Tiradentes foi batizado no dia 12 de
novembro de 1746 e seus padrinhos foram o dentista Sebastião Ferreira Leitão e
Nossa Senhora da Ajuda.
INFÂNCIA E JUVENTUDE
Tiradentes foi
criado e passou parte de sua infância na fazenda de seu pai. Aos nove anos de
idade, perdeu a mãe, aos doze, o pai. Assim que a família se desfez, Tiradentes
foi morar na casa de seu padrinho, que procurou fazê-lo se interessar por sua
profissão, incentivando-o a ler livros de medicina e ensinando-lhe noções
práticas de cirurgia e odontologia. Bem cedo, começou a ajudar o padrinho no
trabalho. Fazia curativos e logo aprendeu a tirar dentes e substitui-los por dentaduras
e dentes postiços, ficando assim conhecido na Vila de São José Del Rei como o
Tiradentes.
Trabalhou também
como tropeiro e mascate, caminhando pelos garimpos de Minas e fazendo viagens
até a Bahia. Depois tentou a sorte na atividade mineradora, quando comprou uma
pequena porção de terra e quatro escravos, aplicando o que economizou como
dentista, mas não teve sucesso na nova atividade que lhe deixou apenas muitas
dívidas.
O MILITAR
Em lº de dezembro de
1775, ingressou na carreira militar e alistou-se na 6º Cia. de Dragões da
Capitania de Minas Gerais, e, por ser descendente de portugueses cristãos, teve
o privilégio de ingressar nas armas já como oficial, sem passar pelos postos
subalternos. Tornou-se, então, Alferes, posto este correspondente ao de 2º
tenente. Recebeu missões perigosas, que cumpriu com eficiência, devido ao seu
conhecimento do sertão. À frente do destacamento acabou com o banditismo na
Serra da Mantiqueira e combateu os contrabandistas de ouro.
Comandou a guarda
dos armamentos depositados no quartel de Vila Rica. Em 1781, foi nomeado pela
rainha de Portugal para chefiar a patrulha do Caminho Novo, estrada que ligava
Minas ao Rio de Janeiro, por onde seguiam as Tropas de Mulas, trazendo o ouro
para ser embarcado no porto do Rio de Janeiro.
Nessa fase de sua
vida, Tiradentes fez amizades em todas as vendas e hospedarias da estrada, onde
ficou muito popular.
Também, nessa mesma
época, Tiradentes, já aos 35 anos, namorou uma jovem chamada Ana, de quem
gostou muito, que morava no Tijuco (atual Diamantina) e era sobrinha do Padre
Rolim, seu amigo e, mais tarde, também membro da Conjuração Mineira. Quando
Tiradentes pediu-a
em casamento, através do Padre, ficou sabendo que ela já estava prometida a
outro.
Tiradentes nunca se
casou. Porém, duas outras mulheres passaram em sua vida, ambas de nobre
condição social. A primeira, uma mulata, Eugênia Joaquina da Silva, com quem
Tiradentes teve um filho chamado João. A outra, uma viúva, Antônia Maria do
Espírito Santo, vivia nos arredores de Vila Rica (atual Ouro Preto), com quem
teve uma filha, Joaquina.
No ano de 1787,
cansado da vida militar, Tiradentes pediu licença no regimento e foi para o Rio
de Janeiro, onde apresentou ao vice-rei Dom Luiz de Vasconcelos alguns projetos
de engenharia e hidráulica para a canalização e captação dos rios Catete e
Maracanã, para abastecimento da cidade e edificação de moinhos e construção de
armazéns para o gado a ser exportado. Seus projetos, porém, ficaram aguardando
a aprovação das autoridades de Portugal e nunca foram executados.
Enquanto permanecia
no Rio de Janeiro, reuniu-se com o estudante José Álvares Maciel, que acabava
de chegar da Inglaterra, com o Padre Rolim e com o coronel Joaquim Silvério dos
Reis, e juntos elaboraram os primeiros planos da revolta contra Portugal.
Terminada sua
licença Militar, Tiradentes, em Agosto de 1788, voltou a Minas comandando a
escolta da mulher do Visconde de Barbacena, novo Governador de Minas.
Em Vila Rica,
tornou-se o principal articulador da conspiração para a libertação do país.
Organizou um grupo do qual faziam parte pessoas de grande projeção na
capitania. Era, ao mesmo tempo, um idealista e um espírito prático. Não
hesitava em fantasiar os fatos para atingir seus objetivos. Inventou, por
exemplo, que o novo governador trazia instruções para que as fortunas
particulares em Minas não ultrapassassem dez mil cruzados. Garantiu a todos o
apoio de potências estrangeiras à conjuração.
Em fins de 1788,
aconteceu a primeira reunião dos conspiradores na casa do tenente-coronel Paula
Freire. A ele unira-se o Padre Carlos Correia de Toledo, vigário de São João
Del Rei, homem rico e influente, e a conspiração foi crescendo com a
participação do Cônego Luiz Vieira da Silva, do Padre Rolim, Tomás Antônio
Gonzaga, Cláudio Manoel da Costa, Alvarenga Peixoto e outros que no decorrer do
tempo se juntaram aos primeiros.
A INICIAÇÃO DE TIRADENTES
Naquela época, a
maçonaria permitia que se fizessem iniciações fora dos templos e, às vezes, por
um irmão com autoridade, o que era denominado Iniciação por Comunicação. E
assim José Álvares Maciel iniciou Joaquim José da Silva Xavier. Esse tipo de
iniciação foi suprimido, em 1907, com a promulgação da constituição Lauro
Sodré. O Coronel Francisco de Paula Freire não gostava do alferes Tiradentes,
com o qual mantinha fria distância. Esse tratamento mudou completamente quando
Tiradentes, de volta do Rio de Janeiro, foi iniciado nos mistérios da
Maçonaria.
A DELEGAÇÃO
Os planos foram
traçados, na ocasião da derrama, Tiradentes depois de prender o governador,
despertaria Vila Rica aos gritos de Liberdade. A pretexto de restaurar a ordem,
Paula Freire e suas tropas ocupariam a cidade e, com Vila Rica sob controle,
declararia sua Adesão à Inconfidência.
Tiradentes resolve
passar em todos os conjurados e verificar se cada um estava cônscio de sua
responsabilidade, obtendo um sim de cada um deles e em março de 1789, segue
para o Rio com desculpa de ver como iam os seus requerimentos de obras
públicas, porém sua verdadeira missão era conseguir o “apoio” da guarnição do
Rio de Janeiro e durante sua viagem ia divulgando suas ideias, sem maiores
cautelas, pelas hospedarias e vilas do Caminho Novo e durante sua viagem a conspiração
foi denunciada em uma carta dirigida ao governador Visconde de Barbacena e
assinado pelo traidor Joaquim Silvério dos Reis do seguinte teor:
·
“Existe um movimento contra a Coroa e
automaticamente contra Vossa Excelência”. no sentido de derruba-lo por ocasião
da derrama e em seguida sublevar o povo e a tropa, para logo após, partirem com
adesão do povo de outras províncias, para uma louca independência.
·
Para isso contam com as maiores inteligências desta
terra e pessoas de destaque do vosso governo, tendo como principal chefe o
Alferes Joaquim José da Silva Xavier, um dos mais inflamados oradores,
acompanhado de perto por homens com ideais impregnados pelos últimos
acontecimentos de independência da América Inglesa.
·
Se Vossa Excelência der crédito a esta missiva,
gostaria de ser chamado sigilosamente ao vosso gabinete, onde declinaria
pessoalmente o nome de todos os que tramam contra nossa Augusta e Soberana
Rainha.
·
Ponha todos estes importantes participantes na
presença de Vossa Excelência pela obrigação de felicidade, não por meu intento,
nem vontade, sejam de ver a ruína de pessoa alguma, o que espero em Deus que,
com o bom discurso de Vossa Excelência há de acontecer tudo e dar as
providências, sem a perdição dos vassalos.
·
“O prêmio que peço tão somente a Vossa Excelência é
o de rogar-lhe que pelo amor de Deus se não perca ninguém”.
A PRISÃO E MORTE
Todos os
inconfidentes foram presos, porém Tiradentes encontrava-se na casa de seu amigo
Domingos Fernandes da Cruz, na cidade do Rio de Janeiro, onde no dia 10 de maio
de 1789, foi preso e ficou incomunicável cerca de três anos e nesse período só
foi visitado por seu confessor, o Padre Raimundo Penaforte. No dia 18 de abril
de 1792, foi proferida a sentença dos cinco réus padres, e no dia 19, dos demais
conjurados. A Tiradentes foi proferida a seguinte sentença:
“Portanto condenam ao réu Joaquim José da Silva
Xavier, por alcunha o Tiradentes, alferes que foi da tropa paga da capitania de
Minas, a que com baraço e pregão, seja conduzido pelas ruas públicas ao lugar
da forca e nela morra morte natural para sempre, e que depois de morto lhe seja
cortada à cabeça e levada a Vila Rica, onde em lugar mais publico dela, será
pregada, em um poste alto até que o tempo a consuma; e o seu corpo será
dividido em quatro quartos, e pregado em postes pelo caminho de Minas, no sítio
da Varginha e das Cebolas, onde o réu teve suas infames práticas, e os mais,
nos sítios de maiores povoações, até que o tempo também os consuma; Declaram o
réu infame, e seus filhos e netos, tendo os seus bens aplicados para o Fisco e
Câmara Real, e a casa em que vivia em Vila Rica, será arrasada e salgada, para
que nunca mais no chão se edifique.”
No dia 21 de abril
de 1792, às 9 horas, inicia-se o triste cortejo: À frente uma Cia. de Soldados,
depois os frades dizendo orações e em seguida Tiradentes, o laço da forca no
pescoço e a ponta da corda segura pelo carrasco, e quase abraçado ao condenado,
Frei Penaforte reza com ele. Descalço, com o cabelo todo raspado e sem barba,
vestido com uma camisola branca, Tiradentes seguia de cabeça erguida, porte ereto,
e passo firme a marcha para a forca, construída no Lago da Lampadosa (atual
Praça Tiradentes), onde às 11h20min Tiradentes foi enforcado.
Frei Raimundo
Penaforte, o confessor, escreveu o seguinte sobre Tiradentes:
“Foi um daqueles indivíduos da espécie humana, que
põem em espanto a própria natureza. Entusiasta, empreendedor com o fogo de um
D. Quixote, habilidoso com um desinteresse filosófico, afoito e destemido, sem
prudência às vezes, em outro temeroso ao cair de uma folha; mas o seu coração
era sensível ao bem. A Coroa quisera, com o espetáculo do enforcamento, afirmar
o seu domínio sobre a colônia brasileira. Tiradentes tentara, com o sacrifício,
salvar os companheiros e abrir ao povo o caminho da emancipação política. Um
espírito inquieto, um homem leal, esse Alferes Joaquim José da Silva Xavier,
por alcunha Tiradentes. Herói sem medo de todo um povo”.
CURIOSIDADE
– Na primeira noite
em que foi exposta em Vila Rica, a cabeça de Tiradentes foi furtada, sendo o
seu paradeiro desconhecido.
– Tratando-se de uma
condenação por inconfidência (traição à Coroa), os sinos das igrejas não
poderiam tocar quando da execução. Conta-se a história de que, mesmo assim, no
momento do enforcamento de Tiradentes, o sino da igreja local soou cinco
badaladas.
– Tiradentes jamais
teve barba e cabelos grandes. Como alferes, o máximo permitido pelo Exército
Português seria um discreto bigode. Durante o tempo que passou na prisão,
Tiradentes, assim como todos os presos, tinha periodicamente os cabelos e a
barba aparados, para evitar a proliferação de piolhos e, durante a execução,
estava careca com a barba feita, pois o cabelo e a barba poderiam interferir na
ação da corda.
·
INSTITUTO
TIRADENTES
·
R.
Jorge Teotônio Teixeira, 50
·
CEP
36570-000 - Viçosa / MG
·
Tel.:
(31) 3891-9707 e (31) 3891-5211
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